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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Conto - Olhos Negros

Conto: Olhos Negros
Autor(a:): Roberta H.
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Olhos Negros

Acordo. John não está na cama comigo. Olho para o relógio digital ao lado da cama, 3:32 da madrugada. Talvez ele tenha ido ao banheiro, ou algo do tipo. Escuto um barulho, parece que algo pesado caiu.

            -- John? Você está aí, amor? – nenhuma resposta.

            Acendo a luz do abajur, a luz irrita meus olhos. Quando eles acostumam-se com a claridade, percebo manchas vermelhas no chão. Elas vão da cama até a porta do quarto. Pensamentos ruins invadem minha mente, tento mantê-los afastados.

            -- John? Aconteceu alguma coisa? – nada de novo.

            Ando até o corredor, as manchas continuam. Sangue. Mais um barulho, dessa vez, um pouco mais baixo. Ouço passos que parecem vir da cozinha. Eles estão se aproximando. Posso ver a silhueta de uma pessoa no corredor escuro. Quando ela chega mais perto, percebo que é John, ele está segurando uma faca, suas mãos estão sujas de sangue e eu vejo medo em seus olhos. Orbitas negras, completamente negras.

            -- Meu Deus, o que aconteceu? Por que você está com essa faca? John, você está bem?

            Agora ele não demonstra mais medo, seus olhos parecem vazios e em seu rosto não há expressão alguma. Ele me encara por alguns segundos, olhando-me nos olhos e abre um sorriso insano. Quando me dou conta, ele já está em cima de mim com a faca apontada para meu peito. Eu começo a gritar na esperança de que alguém escute, mesmo sabendo que não havia ninguém para me salvar. Por breves segundos consigo segurar o braço de John, mantendo a faca afastada de mim. Então, ouço um som agudo, parecido com um gemido, que faz meus tímpanos arderem. John levanta-se rapidamente e sai correndo.

            Eu levanto e tento ver aonde ele foi. Ele parece ter ido embora. Então, escuto novamente o som agudo. Vou correndo para meu quarto e tranco a porta. Ouço um grito, mas ninguém em sã consciência teria coragem de ir ver o que era. Muito menos eu. Nunca senti tanto medo em minha vida. O que diabos está acontecendo?!

            Escuto o som agudo de novo. Ele fica cada vez mais alto. Então alguém – ou alguma coisa – começa a bater e arranhar a porta. Aquilo com certeza não é algo humano. Nenhum ser humano seria capaz de fazer barulhos como aqueles. A porta está prestes a se estilhaçar e eu não tenho para onde ir. A não ser... a janela! Corro até ela tento abri-la, mas não consigo. Jogo-me contra o vidro e ele se parte em mil pedaços. Caio na grama, encima dos cacos de vidro, um deles faz um corte em meu braço. Levanto-me meio que entorpecida e olho a minha volta. Onde estou?

            Sem ruas, casas, pessoas, nem carros... Apenas árvores e mais árvores, apenas iluminadas pela luz da lua cheia. Uma floresta? Como vim parar aqui?  Olho para trás, não há janela alguma. Apenas mais árvores, e escuridão. Ouço o som agudo de novo, dessa vez mais perto. Também ouço passos, alguém caminhando sobre as folhas secas. Meu instinto me diz para correr, mas minhas pernas não respondem. Estou paralisada, não consigo me mover.

            -- John?! Você está aí? Socorro!

            De repente me sinto tonta, minha visão fica turva e tudo escurece. Abro os olhos. Estou em minha cama, no meu quarto, a blusa encharcada de suor. Olho para o lado, John está aqui comigo. Foi um sonho? Não, não é possível... Parecia tudo tão real. Real de mais para ser apenas um sonho.

            Levanto-me e vou ao banheiro para lavar o sono de meu rosto e tomar um banho quente. Tiro a blusa molhada e... O que é isso em meu braço? Parece um corte recente, ainda não está completamente cicatrizado. Lembro-me do sonho, o vidro estilhaçado cortando-me. Não, não era um sonho. Mas, então o que aconteceu?


            Escuto o mesmo som agudo de antes. Olho-me no espelho, minha pele está pálida e meus olhos... negros, completamente negros.





--Roberta H.

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