Conto: Olhos Negros
Autor(a:): Roberta H.
Autor(a:): Roberta H.
Você também pode mandar seu conto para o e-mail: sr.fofo@hotmail.com
Olhos Negros
Acordo. John não está na
cama comigo. Olho para o relógio digital ao lado da cama, 3:32 da madrugada.
Talvez ele tenha ido ao banheiro, ou algo do tipo. Escuto um barulho, parece
que algo pesado caiu.
--
John? Você está aí, amor? – nenhuma resposta.
Acendo
a luz do abajur, a luz irrita meus olhos. Quando eles acostumam-se com a
claridade, percebo manchas vermelhas no chão. Elas vão da cama até a porta do
quarto. Pensamentos ruins invadem minha mente, tento mantê-los afastados.
--
John? Aconteceu alguma coisa? – nada de novo.
Ando
até o corredor, as manchas continuam. Sangue. Mais um barulho, dessa vez, um
pouco mais baixo. Ouço passos que parecem vir da cozinha. Eles estão se
aproximando. Posso ver a silhueta de uma pessoa no corredor escuro. Quando ela
chega mais perto, percebo que é John, ele está segurando uma faca, suas mãos
estão sujas de sangue e eu vejo medo em seus olhos. Orbitas negras,
completamente negras.
--
Meu Deus, o que aconteceu? Por que você está com essa faca? John, você está
bem?
Agora
ele não demonstra mais medo, seus olhos parecem vazios e em seu rosto não há expressão
alguma. Ele me encara por alguns segundos, olhando-me nos olhos e abre um
sorriso insano. Quando me dou conta, ele já está em cima de mim com a faca
apontada para meu peito. Eu começo a gritar na esperança de que alguém escute, mesmo
sabendo que não havia ninguém para me salvar. Por breves segundos consigo
segurar o braço de John, mantendo a faca afastada de mim. Então, ouço um som
agudo, parecido com um gemido, que faz meus tímpanos arderem. John levanta-se
rapidamente e sai correndo.
Eu
levanto e tento ver aonde ele foi. Ele parece ter ido embora. Então, escuto
novamente o som agudo. Vou correndo para meu quarto e tranco a porta. Ouço um
grito, mas ninguém em sã consciência teria coragem de ir ver o que era. Muito
menos eu. Nunca senti tanto medo em minha vida. O que diabos está acontecendo?!
Escuto
o som agudo de novo. Ele fica cada vez mais alto. Então alguém – ou alguma
coisa – começa a bater e arranhar a porta. Aquilo com certeza não é algo
humano. Nenhum ser humano seria capaz de fazer barulhos como aqueles. A porta
está prestes a se estilhaçar e eu não tenho para onde ir. A não ser... a
janela! Corro até ela tento abri-la, mas não consigo. Jogo-me contra o vidro e
ele se parte em mil pedaços. Caio na grama, encima dos cacos de vidro, um deles
faz um corte em meu braço. Levanto-me meio que entorpecida e olho a minha
volta. Onde estou?
Sem
ruas, casas, pessoas, nem carros... Apenas árvores e mais árvores, apenas
iluminadas pela luz da lua cheia. Uma floresta? Como vim parar aqui? Olho para trás, não há janela alguma. Apenas
mais árvores, e escuridão. Ouço o som agudo de novo, dessa vez mais perto.
Também ouço passos, alguém caminhando sobre as folhas secas. Meu instinto me
diz para correr, mas minhas pernas não respondem. Estou paralisada, não consigo
me mover.
--
John?! Você está aí? Socorro!
De
repente me sinto tonta, minha visão fica turva e tudo escurece. Abro os olhos.
Estou em minha cama, no meu quarto, a blusa encharcada de suor. Olho para o
lado, John está aqui comigo. Foi um sonho? Não, não é possível... Parecia tudo
tão real. Real de mais para ser apenas um sonho.
Levanto-me
e vou ao banheiro para lavar o sono de meu rosto e tomar um banho quente. Tiro
a blusa molhada e... O que é isso em meu braço? Parece um corte recente, ainda
não está completamente cicatrizado. Lembro-me do sonho, o vidro estilhaçado
cortando-me. Não, não era um sonho. Mas, então o que aconteceu?
Escuto
o mesmo som agudo de antes. Olho-me no espelho, minha pele está pálida e meus
olhos... negros, completamente negros.
--Roberta H.