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Música
sábado, 26 de abril de 2014
domingo, 20 de abril de 2014
Conto - Aula de Matemática
Conto: Aula de Matemática
Autor(a:): Desconhecido.
Você também pode mandar seu conto para o e-mail: sr.fofo@hotmail.com
Aula de Matemática
Quando era criança, pouco mais de 10 anos, tinha feito um
desenho no caderno de matemática. Não era um desenho qualquer. Tinha desenhado
o diabo, mas não era isso que tornava o desenho especial. Quando era criança,
ele sabia disso, mas com o tempo esqueceu.
Não lembrava mais do tempo que passou
desenhando, de como tinha se esforçado e em como o diabo olhava para fora do papel. Na sua inocência, colocou esforço demais no
trabalho, mas porque era inocente, percebeu a tempo. Sabia que o desenho era
especial.
A noite, no seu quarto, ele podia
sentir o desenho, mesmo estando na página final do seu caderno, dentro da
mochila. Ele sentia que tinha feito alguma coisa errada e como toda criança não
contou para ninguém. Mas não sabia o que fazer com ele.
O garoto sabia outras coisas. Sabia
que o desenho não gostava de ficar fechado dentro do caderno. Que o desenho não
gostou de ser desenhado. E sabia que o desenho era especial, mas não de um
jeito bom. Tentava deixar a página aberta do caderno, escondendo quando passava
algum colega de sala ou professor.
Ele sabia que o desenho do diabo no
caderno de um garoto de 10 anos não era algo que outras pessoas achariam
normal. Ao mesmo tempo, ele não ousava irritar o desenho. Porque sabia sem
saber que apesar de estar preso no papel, ele não ficaria preso para sempre.
Por todo o resto do ano, o diabo se tornou a sua cruz e, todos os dias, o
garoto se arrependia de ter desenhado. Todas as noites, se arrependia de seus
pecados.
O ano passou e o garoto esqueceu. O
caderno foi esquecido em um armário junto com outras lembranças da infância.
Durante anos, o desenho ficou lá, preso dentro do caderno, embaixo de
brinquedos e material escolar. Vinte anos sufocado e esquecido.
Hoje, arrumando o armário, ele
encontrou o caderno. Com saudosismo, passou as páginas. Viu o desenho mas não
se lembrou do que sabia. Esqueceu que o desenho não gostava de ficar preso
dentro do caderno e esqueceu também o caderno, aberto em cima da mesa, antes de
dormir.
Acordou, de repente, às 3 da manhã e
se lembrou de tudo. Levantou e foi correndo até a sala para fechar o caderno.
Mas o desenho não estava lá.
--Roberta H.
domingo, 13 de abril de 2014
Conto - Casa dos Rostos
Conto: Casa dos Rostos
Autor(a:): Desconhecido.
Você também pode mandar seu conto para o e-mail: sr.fofo@hotmail.com
Casa
dos Rostos
Ao
entrar em sua modesta cozinha em uma abafada tarde de agosto de 1971, Maria
Gomez Pereira, uma dona de casa espanhola, espantou-se com o que lhe pareceu um
rosto pintado no chão de cimento. Estaria ela sonhando, ou com alucinações?
Não, a estranha imagem que manchava o chão parecia de fato o esboço de uma
pintura, um retrato.
Com
o correr dos dias a imagem foi ganhando detalhes e a noticia do rosto
misterioso espalhou-se com rapidez pela pequena aldeia de Belmez, perto de
Cordoba, no sul da Espanha. Alarmados pela imagem inexplicável e incomodados
com o crescente número de curiosos, os Pereira decidiram destruir o rosto; seis
dias depois que este apareceu, o filho de Maria, Miguel, quebrou o chão a
marretadas. Fizeram novo cimento e a vida dos Pereira voltou ao normal, mas não
por muito tempo.
Em
uma semana, um novo rosto começou a se formar, no mesmo lugar do primeiro. Esse
rosto, aparentemente de um homem de meia idade, era ainda mais detalhado.
Primeiro apareceram os olhos, depois o nariz, os lábios e o queixo.
Já
não havia como manter os curiosos à distância. Centenas de pessoas faziam fila
fora da casa todos os dias, clamando para ver a "Casa dos Rostos".
Chamaram a policia para controlar as multidões. Quando a noticia se espalhou,
resolveu-se preservar a imagem. Os Pereira recortaram cuidadosamente o retrato
e puseram em uma moldura, protegida com vidro, pendurando-o então ao lado da
lareira.
Antes
de consertar o chão os pesquisadores cavaram o local e acharam inúmeros ossos
humanos, a quase três metros de profundidade. Acreditou-se que os rostos
retratados no chão seriam dos mortos ali enterrados. Mas muitas pessoas não
aceitaram essa explicação, pois a maior das casas da rua fora construída sobre
um antigo cemitério, mas só a casa dos Pereira estava sendo afetada pelos
rostos misteriosos.
Duas
semanas depois que o chão da cozinha foi cimentado pela segunda vez, outra imagem
apareceu. Um quarto rosto - de mulher - veio duas semanas depois. Em volta
deste ultimo apareceram vários rostos menores; os observadores contaram de nove
a dezoito imagens. Ao longo dos anos os rostos mudaram de formato, alguns foram
se apagando. E então, no inicio dos anos oitenta, começaram a aparecer outros.
O que - ou quem - criou os rostos fantasmagóricos
no chão daquela humilde casa? Pelo menos um dos pesquisadores sugeriu que as
imagens seriam obra de algum membro da família Pereira. Mas alguns químicos que
examinaram o cimento declararam-se perplexos com o fenômeno. Cientistas,
professores universitários, parapsicólogos, a policia, sacerdotes e outros
analisaram minuciosamente a imagem no chão da cozinha de Maria Gomes Pereira,
mas nada concluíram que explicasse a origem dos retratos.
--Roberta H.
sábado, 12 de abril de 2014
Conto - O Corredor
Conto: O Corredor
Autor(a:): Desconhecido.
Autor(a:): Desconhecido.
Você também pode mandar seu conto para o e-mail: sr.fofo@hotmail.com
O Corredor
No outdoor, enquanto o cowboy
fumava, as luzes de néon invadiram as cortinas vulgares. Em penumbra, no quarto
abafadiço, um ventilador girava suas engrenagens corroídas quando Paulo
moveu-se na cama, murmurando, preso aos sonhos. O suor escorria pelo pescoço, e
ainda adormecido, passou a mão na pele pegajosa, a noite estivera abafada, e o
ventilador, em sua ladainha, espalhava a poeira que os hotéis guardam com o
tempo. A música vinda da rua era dolorosamente bela: — For you I'm
bleeding... For you, for you…
Foi a canção que o
despertou. Ainda naquele estado de sonolência, as mãos procuraram o pequeno
celular embaixo do travesseiro. Abriu os olhos, e no painel azulado, viu que
ainda faltavam quinze minutos para às quatro horas. Mais uma vez despertaria e
seguiria viagem, deixando aquele hotel, mas ah, ah como odiava acordar antes do
despertador, roubado em quinze minutos do seu sono. Virou a cabeça para o lado,
olhos fechados, empurrando os lençóis para longe, tentou não pensar no dia que
logo se iniciaria. Tentou não sentir a boca ácida, guardando resquícios de
whisky, enjoado com o cheiro da maquiagem e do perfume oriental de alguma
prostituta que lhe fizera companhia parte da noite. Vencendo a náusea, cobriu a
cabeça para fugir da luz vinda da janela. A canção havia desaparecido, mas a
melodia ainda ecoava.
Havia
sonhado, a imagem clara sua mente, asas de borboletas, lábios que balbuciavam
palavras que não podia entender. E na modorra entre o sono e a realidade, sabia
que voltaria a sonhar com a menina, segurando algo não identificado e
murmurando.
A cabeça moveu-se no travesseiro
úmido, os sentidos entorpecidos, adormeceu. Viu-se em um corredor escuro,
cercado por quartos em ruínas, e ao seu lado, as paredes grafitadas. Seus
passos arrastavam-se no chão escorregadio, enquanto uma água fétida surgia
fininha na parede ao lado. As cores embaçadas da madrugada envolviam a tudo, e
cada penugem do seu corpo arrepiou-se, quando a canção cresceu, e ouviu seu
nome em sussurros, entrecortando a melodia. Pressentiu nas sombras um vulto
passando, virou-se devagar, indeciso entre correr e o medo que o paralisava,
mas não havia nada, nada além uma porta entreaberta, de onde vinha um soluço,
um pequeno lamento. Paulo empurrou a porta, devagar, e de repente, todos os
seus membros amorteceram-se: era ela!
Estava encostada na parede, em um
canto imundo, cercada por teias de aranhas, quando ele a viu. Bianca, os
cabelos dourados em duas tranças e a fita solta pelos ombros. A velha angústia
o envolveu, o ar faltou quando a dor tornou-se física. Sem perceber, uma
lágrima começou a cair dos seus olhos. Balbuciou o nome que há muito não ousava
pronunciar e os olhos amendoados ergueram-se, fitando-o sem parecer
reconhecê-lo, mas os lábios cheios e rosados abriram-se,
implorando:
— Socorro, por
favor...
Paulo
via os lábios moverem-se em um pedido mudo, ouvido dentro de si quando ela
apontou com os braços finos o outro canto da sala. Ali, bem a frente de Bianca,
da sua Bianca, um gigantesco escorpião branco retorcia-se. Feroz, a pele
estranhamente branca, o animal possuía no ferrão uma ponta vermelha, que
agitava ameaçador. O ferrão ia e vinha em direção à moça, cada vez mais perto.
Paulo olhou ao redor, e em suas mãos, viu de repente um facão, e avançou, aço
contra carne, e quanto mais forte eram os golpes, mais o peçonhento se debatia,
os olhos arregalados e azuis explodindo em sangue. As sombras cresciam por todo
lado, e gemidos finos subiam pelo ar, até que a carcaça albina jazia derrotada.
Levantou os olhos, mas
ela já não estava lá, apenas a ponta do vestido branco arrastando-se pela porta,
e desesperado, ele a seguiu pelo corredor enlodado. E enfim, quando os
corredores bifurcaram-se, ele a viu, esperando-lhe. Ela a sua frente, as
tranças douradas, a fita azul, e a renda suave enfeitando a borda do vestido,
como da primeira vez que a vira. Os mesmos olhos amendoados fitando-o, em
expectativa. Ela agora em seus braços, a boca na sua, a pele, o cheiro que
nunca o havia abandonado, os braços o envolveram e Paulo tremia enquanto seu
corpo a prendia na parede, explodindo de ternura e paixão, tocando-a por cima
do algodão, sentindo o coração batendo sob o seu peito, ele chorou. No ar,
as notas espalhavam-se: — And every new dawn...
Ends in bitterness...
O
ventilador movia-se lentamente no quarto, e as hélices foram parando, parando, até
que o silêncio sufocou as horas e Paulo acordou. Os olhos estavam úmidos, e os
soluços irromperam no peito do homem. Abraçou o próprio corpo, sentindo o
cheiro da pele amada, depois de tanto tempo, porque sua mente a trouxera de
volta? A velha dor... Amarga dor. O calor crescia, e novamente procurou o
pequeno celular, os números diziam claramente: 3horas e 45 minutos. Um
pesadelo, um maldito sonho. A cabeça repousou no travesseiro, aquela noite
havia sido longa, sentia sede, os lábios ressecados. E ela. Ela impregnando-se
em sua alma. Fechou lentamente os olhos, mais quinze minutos, e na esperança de
tê-la um pouco mais, forçou o corpo a descansar novamente. Foi se deixando embalar
pelo sono, e o sonho voltou. Estava de volta ao corredor escuro. Na parede,
recortes de jornais manchados de sangue, letras turvas no papel embolorado
impediam-no de ler.
Os
sussurros agora chamavam seu nome, e as mãos tocavam o corredor escuro enquanto
ele corria. Ouvia os passos leves e revia o campo onde ele e Bianca haviam
corrido pela primeira vez, sonhado tantos sonhos, dançando na varanda, as faces
tocando-se, ah, era a mesma melodia.
Uma porta abriu-se ao seu lado, e o mesmo lamento de antes veio de uma
sala em ruínas. A menina com asas de borboleta apareceu, estendendo-lhe os
braços, oferecendo-lhe algo que não podia identificar, as palavras mudas
murmuradas nos lábios, mas quando um ruído feroz quebrou a mesa de vidro, ela
se afastou, entristecida.
Um riso áspero cortou
a sala, e no outro canto, Bianca chamava por ele, implorando por socorro. O
escorpião branco erguia-se, mas seus pés estavam presos no lodo imundo da sala.
A agulha rubra tocou a face pálida, e Bianca gemeu quando o ferrão vermelho
perfurou-lhe o peito, a ponta fina dilacerando a renda branca, rasgando a carne
e o tecido até um rio rubro escorrer pelo chão, o ventre dilacerado e, horror
dos horrores, um bebe chorava entre as vísceras.
Paulo gritou, gritou,
gritou, até acordar com o próprio grito, as imagens congelando-o na cama, o
ódio tomando-lhe o peito, viu-se preso na velha angústia, revendo o casamento,
a família, o bolo, a valsa, as imagens dançavam em sua mente, e ele não parava
de gritar. Bianca sorrindo, Bianca no jardim, Bianca voltando do médico, Bianca
caída no chão da sala, sangue por todo lugar, e desde então, uma viagem eterna
por hotéis e putas decadentes, embriagando-se com whisky barato, fugindo da
dor.
Ao perceber que ainda
gritava, Paulo tentou levantar-se, mas a dor na cabeça o impediu. O
celular caído no chão marcava ainda 3horas e 45 minutos, olhou para o teto e
teve a impressão de que este estava cada vez mais perto, sorveu sequioso um
resto de água mineral da garrafa caída sobre o tapete, e temendo as sombras,
fechou os olhos, vendo-se de novo no corredor estreito, os gritos de Bianca
chamando-o, jurando amor, pedindo, implorando por socorro, enquanto o escorpião
albino balançava ferozmente o ferrão vermelho, os olhos dela nos dele, tantas
palavras não ditas, a velha dor.
Via-se de novo no sonho, consciente,
porém preso, hipnotizado entre o sonho e a realidade, mas ainda assim, não
podia reagir, e o escorpião branco foi se aproximando, e Paulo
debatia-se, os braços amarrados, sabendo sem razão que enquanto gritasse
estaria salvo. Foi quando, em um canto, percebeu a menina-borboleta, entristecida,
estendendo-lhe os braços. Em suas mãos, reconheceu um antigo espelho, quando
Paulo viu-se refletido, o ar faltou, e num arquejo, era ele no espelho, era
ele, e era o escorpião branco, era ele a fera, e o ferrão que dilacerou o
ventre amado, julgando ferir uma semente que não aceitava como sua, era o dele.
No rosto da menina que o fitava, reconheceu seus próprios olhos azuis, e
as tranças douradas de Bianca, e finalmente entendia o que ela murmurara, em
monossilábicos gemidos:
— Por que, meu pai? Por
quê?
Eram oito horas da
manhã, quinta-feira cinzenta, quando os jornais noticiavam a execução por
injeção letal. O condenado havia cometido o crime de uxoricídio. A esposa
estava grávida e por milagre, a criança sobrevivera. Quatorze anos passados em
silêncio aterrorizante, vários laudos depois, enfim a sentença se cumpriria. Na
pequena sala, uma jovem de cabelos trançados observava, ao seu lado, um relógio
parado marcava 3 horas e 45 minutos. Com olhos marejados, viu enfim a injeção
letal perfurar a tatuagem de um escorpião no braço do pai. Para ela, era o fim.
No
velho quarto de hotel, as luzes de neon apagaram-se quando a
garota-borboleta partiu. Paulo ficou sozinho no velho corredor, ouvindo a
melodia dentro de si, “For
you, for you, for you i'm bleeding” e ao longe, a voz suave de Bianca
pedindo por ele. Sentindo
às suas costas o escorpião branco rastejar nas sombras da eternidade, seus
passos seguiram pelo corredor.
--Roberta H.
sexta-feira, 11 de abril de 2014
Conto - Arame Farpado
Conto: Arame Farpado
Autor(a:): Aline.
Você também pode mandar seu conto para o e-mail: sr.fofo@hotmail.com
Sei que faz tempo que estou sem postar, peço desculpas (de novo). Se alguém souber o nome do autor ou autora dos contos postados cujo autor(a) está descrito como "desconhecido", me avise e irei dar os devidos créditos. Obrigada.
Arame Farpado
Ela caminhava lentamente para seus passos não serem
ouvidos, arrastava a trouxa com cuidado atrás de si, a coisa envolvida em
trapos ainda tinha leves espas mos e fazia um barulho como um de um sapo coaxando. Ninguém poderia descobrir seu segredo, ninguém poderia saber que aquela
trouxa tão imunda e disforme já fora um ser humano. Isso seria uma
tragédia, uma desgraça para sua vida amaldiçoada.
Ela
não fazia por mal, nunca quis ferir ninguém, a primeira vez fora sem querer,
estava brincando com um amigo, quando esse se desequilibrou e caiu da
ponte; ela tentou segurá-lo, mas ele escorregou; ela ficou vendo os
carros passarem por cima do corpo, depois a ambulância chegou e ela sumiu…
Ninguém nunca soube.
Então
se tornou um vício, era como se tudo o que ela tocasse morresse. Mas o pior não
era isso; o pior é que ela gostava de ver as coisas morrerem, era tão bom,
melhor ainda quando as vitimas reagiam… Ver o medo em seus olhos, a raiva,
sentir os golpes que elas davam enquanto morriam, ouvir os gritos e os gemidos,
então o silêncio…Ah! Aquele delicioso silencio mórbido.
Ela não
conseguiria viver sem nada disso… Por isso nem tentara fugir de seu “dom”. Encontrara
um pequeno campo ao lado de uma indústria de produtos de limpeza. Era perfeito.
O cheiro forte encobriria o fedor putrefato dos cadáveres e os tóxicos logo se
encarregariam de consumir o que restasse das vitimas.
Pegando
uma pá detrás de um arbusto, ela cavou outra cova, suas mãos já estavam
cheias de calos por esta tarefa repetitiva, já estava bem funda em pouco tempo.
Abrindo o saco, ela jogou seu conteúdo dentro da cova, só se sabia qual
era a cabeça por causa do monte de cabelos cor de avelã, já que o resto era
algo retorcido e vermelho.
Ela fez uma careta quando
percebeu que um dos olhos grudara em seu sapato, limpou com a pá. Tirou da
bolsa o martelo, a arma do crime, que sempre enterrava junto com a vítima;
jogou-a no buraco, tampando-o com terra logo em seguida. Acabara,
era só isso.
Voltou para casa, seus pais
ainda estavam dormindo, pegou uma faca no armário, esquentou-a no fogão,
levantou a manga do moletom revelando o braço cheio de cicatrizes. Marcou
com a faca incandescente mais uma cruz no braço, era seu modo de dizer adeus a
mais aquela pessoa que alimentara seu vício. Pegou os documentos da
vítima, guardando-os numa caixa de “Sonho de Valsa” que tinha no armário
atrás das calças jeans. Olhou o
relógio, 2:35 da manhã, fora rápida, ainda dava tempo para mais um…
Ela
entrou devagar e sem fazer barulho, já estava especialista em quebrar janelas
sem ruído. Dirigiu-se ao quarto onde o casal dormia, tirou algo da bolsa e
segurou firmemente em ambas as mãos, uma luz se acendeu atrás dela. Ela mal
teve tempo de olhar, seu rosto foi envolvido por algo que ela reconheceu como
arame farpado que lhe cortava e entrava em sua boca. A dor que a envolveu era
interminável, o jovem tinha força e a mantinha no chão enquanto puxava e puxava
aquele fio cheio de pontas. Via a surpresa e a dor no rosto juvenil dela, devia
ter uns dois anos a menos que ele próprio. Não demorou muito para que ele
dividisse aquele rosto bonito em dois, o sangue tinha formado uma poça no chão,
ele levou o corpo até um baú em seu quarto, em breve a enterraria ou jogaria em
um lago, o que aparecesse primeiro, escondeu a bolsa dela na antiga caixa de seu
Playstation atrás das roupas de futebol. Limpou o
sangue com o pano de chão, o lavou e o estendeu no varal.
Começara há algum tempo, não
tinha a menor intenção de matar, mas o ladrão invadira a casa e apontara uma
arma para sua irmã, que dormia; ele bateu com um vaso de ferro na cabeça do
idiota, batera forte demais e o homem caíra; ele de teve que despedaçá-lo para
que coubesse no baú, a partir de então se tornara um vício, algo de que ele
precisava, algo louco e insano que o dominava. Ele trancou o baú esperando o amanhecer, voltou a dormir… Era assim, um dia da
caça outro do caçador.
--Roberta H.
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