Conto: Espírito do Orfanato
Autor(a:): Desconhecido.
Você também pode mandar seu conto para o e-mail: sr.fofo@hotmail.com
Olá, pessoas. Bom, estou tentando postar o máximo que posso, mas não tenho muito tempo. Pelo mesmo motivo, faz um certo tempo que não escrevo contos. Mesmo assim, continuo tentando manter o blog sempre atualizado. Obrigada pelas visitas. Ficaria muito grata se me ajudassem a divulgar. Deixem suas opiniões nos comentários, não custa nada. Obrigada.
Espírito do Orfanato
Em um
antigo internato para meninas, de tempos em tempos histórias “vividas” por
internas mais antigas vinham à tona. A maior parte delas era apenas invenção.
Mas esta que vou relatar é a única história verídica de todas que escutei.
Devia ter 14 anos na época. Estávamos na sala de aula, no intervalo, em um dia
que parecia apenas mais um qualquer. Foi quando Amanda,
uma das alunas que estavam para sair do internato, por já estar fazendo 18
anos, chamou todas para um canto da sala, dizendo que tinha uma história para
contar. Percebendo do que se tratava, todas foram ao seu encontro.
Eu permaneci sentada em meu lugar, pois já estava
cansada de ouvir tanta baboseira. Percebendo que eu era a única que não fui
ouvir sua história, Amanda veio para perto de mim, seguida de todas as outras meninas.
- Ué Aline, não quer ouvir o que tenho para contar?
– perguntou ela.
- Desculpe, mas não, obrigada. Já estou cansada
dessas histórias sem cabimento.
- Sem cabimento? Dessa vez, a história é
verdadeira.
- Como todas as outras que também eram... –
repliquei.
- Duvida? Então escute e tire suas próprias
conclusões, pois o corpo ainda está aqui.
- Corpo? – as meninas perguntaram em coro.
Ignorando o coro atrás dela e focando seus olhos
verdes em mim, ela começou:
- Essa
história aconteceu há alguns anos. Foi no tempo em que eu entrei aqui. Uma
menina, Alice, desrespeitava e às vezes batia nas senhoras que cuidam do
internato. Ela pensava que tudo o que fazia passaria impune. Mas não passou.
Certo dia, a diretora se cansou das atitudes dela. Ela pegou a menina, que
estava na sala de aula, e a trancou no banheiro da mesma, dizendo que só sairia
dali quando aprendesse a lição. Ela gritou incessantemente pedindo ajuda, mas a
diretora impediu todas que tentaram ajudá-la. Eu mesma tentei, mas ela disse
que esse era o castigo que ela merecia por maltratar as pessoas que “cuidavam”
dela. Todas nós ficamos na porta do banheiro
esperando a diretora soltá-la. Mas ela não o fazia. A noite chegou, e todas
foram obrigadas a voltar para os dormitórios. Durante a noite, ouvi um barulho
que parecia um trovão ecoar pelos corredores do internato. Como não havia sinal
de chuva vindo, levantei e procurei de onde havia saído tal barulho. Enquanto
andava pelos corredores escuros, o barulho ecoou novamente, vindo da nossa sala
de aula. Devagar, fui até lá e vi a porta do banheiro aberta, e ninguém a
cuidá-la. Talvez Alice tivesse escapado, ou então...
“Cautelosamente, entrei no banheiro. Mas não vi
ninguém ali, nem mesmo Alice. Quando estava para sair do banheiro, algo começou
a escorrer da porta da última cabine. Mais apavorada do que nunca, andei até
lá. Mas foi aí que vi algo que nunca queria ter visto. Alice, sentada no vaso
do banheiro, com um buraco na cabeça e outro no peito. Alguém havia entrado ali
e atirado nela, intencionalmente.”
“Apavorada, saí do banheiro, contendo um grito de
desespero. Quando corri em direção aos quartos, vi a diretora saindo depressa
do banheiro dos professores, carregando um objeto estranho, prateado. Tentando
controlar meu nervosismo, segui-a, até sua sala. Ela deixara a porta
entreaberta, então pude observá-la guardar o objeto que, sob a luz da lareira,
pude distinguir o que era: uma arma.”
“Atordoada, voltei ao meu quarto, sem sabe o que
fazer. Entregar a diretora a policia? Impossível, pois ela iria me pegar antes
que eu o fizesse. Contar a alguém? Mas quem, se todas eram leais a ela? Sem
resposta, resolvi tentar dormir novamente. Algumas horas depois, fui acordada
por gritos incessantes. Levantei-me e fui ao único lugar de onde poderiam vir
tais gritos: o banheiro de nossa sala de aula. Lá estavam várias colegas
chorando pelo que viram, e a diretora, dizendo que não sabia como tamanha
barbárie fora cometida. Ela mandou que todas voltassem aos seus quartos enquanto
tirava o corpo de Alice dali, mas não foi o que ela fez. Eu me escondi, a fim
de saber o que ela faria. A diretora simplesmente trancou o banheiro e pediu
para que uma das empregadas cobrisse a porta com tábuas e o mesmo papel de
parede do resto da sala, para que ele ficasse exatamente como todo o resto da
parede”.
Ela parou de me encarar e foi a um canto da sala,
onde rasgou o papel de parede com um pequeno canivete.
- E aqui é onde seu corpo está preso no que um dia
foi um banheiro. Pela morte que sofreu, seu espírito ainda deve estar aqui,
sedento por vingança a todo e qualquer um que ousar libertá-lo.
A sala ficou muda. Todas se entreolhavam, mas
ninguém soltava um suspiro sequer. Então, Amanda voltou-se novamente para mim e
perguntou:
- Então Aline, minha história não é verdadeira?
Não respondi. Levantei-me e fui até onde estava.
Parei em frente à porta e analisei-a. Como todo o resto da fundação do
internato, as tábuas que escondiam a porta estavam podres, e apenas um chute
era mais do que suficiente para quebrá-las.
- Então façamos o seguinte, Amanda: e se eu entrar
nesse banheiro e provar a todas que sua “história verídica” é mais falsa do que
nota de três dólares?
- Sinceramente, eu não quero que você faça isso. Já
basta o terror que eu senti em olhar para ela daquele jeito. E, além disso,
você pode soltar um espírito que pode tentar matar a todas nós.
- Ah, por favor, vai dizer agora que está com medo?
- Estou. E se você sabe o que é melhor para você,
não faria isso.
Soltei um olhar de reprovação para Amanda. Afinal,
do que poderia estar com medo, já que esse deveria ser apenas mais uma de suas
balelas. Mas todas as outras meninas pareciam acreditar nela, mostrando-se apavoradas.
Cansada daquele clima, chutei as tábuas com toda
minha força. Pensei que quebraria apenas elas, mas não pensei que a porta
estivesse pior do que as tábuas, pois ela se quebrou junto. O odor que saiu de
lá era horrível, insuportável. Mas já que havia ido até esse ponto, não
voltaria atrás.
Tapando minhas narinas com a manga do uniforme,
entrei no buraco. Sem iluminação, totalmente imundo e ameaçando desabar, aquilo
era apenas a lembrança do que um dia foi um banheiro. A janela foi coberta com
cimento, para isolar o banheiro e torná-lo desconhecido das novas internas.
Guiando-me apenas pela luz que entrava pelo buraco
pelo qual entrei, procurei pouco a pouco o banheiro onde supostamente estava
Alice. Quanto mais me aproximava da última cabine, mais forte o odor ficava.
Quando parei em frente à cabine, não havia nada. Ela estava vazia. Enquanto
estava voltando-me para a saída para comprovar o que havia dito, todas as luzes
do banheiro se acenderam. Como eu havia me acostumado ao escuro dali, as luzes
fizeram ardes aos meus olhos, me deixando cega por alguns instantes.
Quando voltei a enxergar novamente foi que
aconteceu. Senti uma presença estranha atrás de mim. A parede do banheiro
estava negra, e alguma coisa estava escorrendo da cabine onde Alice deveria
estar. Indecisa e um pouco assustada, voltei-me à cabine, agora fechada.
Abri-a, e tive a visão mais aterradora da minha vida. Depois de vários anos, o
corpo de Alice parecia intacto, inclusive com as perfurações feitas pelas
balas.
Contendo-me para não gritar e mostrar às outras que
Amanda estava certa, fechei novamente a cabine, mas ela abriu-se abruptamente,
ou melhor, alguém a abriu. O corpo de Alice começou a se mover lentamente em
minha direção, mas corri em direção à saída. Infelizmente, ela não estava mais
lá. Era como se eu tivesse voltado no tempo, e o banheiro estivesse exatamente
do mesmo jeito que estava naquele dia.
Comecei a bater na porta e gritar por ajuda, mas
ninguém respondia. Enquanto isso, Alice continuava a vir em minha direção.
Desesperada, pensei em lutar contra ela, mas isso era impossível, pois ela era
uma morta-viva e eu apenas uma menina. Quando me preparei para o final
doloroso, ela simplesmente sussurrou em meu ouvido: “Obrigado...”.
Minhas lembranças daqueles momentos ali dentro
começaram a voltar rápido demais, tornando-as impossíveis de controlar,
fazendo-me desmaiar. Acordei algum tempo depois dentro da sala de aula, mas com
uma pequena surpresa: dois corpos estavam pendurados por cordas no teto da
sala: eram Amanda e a diretora. Para completar, havia um aviso no quadro,
escrito em sangue: este é apenas o começo.
Apavorada, corri para fora do internato, na direção
da cidade. Não queria voltar mais para lá. Depois de horas correndo solitária
numa estrada deserta, avistei alguém vindo. Por causa do cansaço ocasionado por
tantas horas de corrida incessante, desmaiei antes de reconhecer a pessoa.
Algumas horas depois, acordei em uma bela cama, num
lugar que parecia mais um hotel de luxo.
- Então acordou, minha neta? – ele perguntou.
Não consegui esconder a felicidade em reconhecer a
voz dele. Era meu avô, que viera me fazer uma visita no internato. Curioso, ele
me perguntou por que eu estava correndo para a cidade. Contei-lhe toda a história,
e ele pareceu acreditar em mim. Ele disse que estava indo ao internato me levar
para morar com ele, pois não acreditava que meus pais tivessem me colocado num
lugar daqueles. Ele também disse que não sabia onde eu estava por isso nunca
veio me ver. Na verdade, ele disse que se soubesse que eu estava lá desde o
começo, já teria ido me buscar a muito tempo.
Alguns dias depois de fugir do internato, li uma
notícia perturbadora no jornal: “MASSACRE EM INTERNATO”. A polícia dizia
desconhecer quem e como alguém poderia ter matado mais de 40 pessoas enforcadas
no mesmo dia, mas eu sabia quem era: Alice. Ela finalmente pôde se vingar.
Já faz quatro anos. Eu e meu avô saímos daquela
cidade, e nos mudamos para o mais longe possível. Porém, desde aquele dia, algo
está a me acompanhar. E, neste exato momento, ela pode estar aqui, ou com quem
está a ler este relato...
--Roberta H.